segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Os Três Reis


 
A Luxos da Plebe acha que, se Jesus de Nazaré nascesse por estes tempos, amanhã seria visitado pelos seguintes Reis:

- O Rei da Vida Airada – mais conhecido por José Sócrates. Curiosamente o próprio também recebeu a visita de três elementos: http://sicnoticias.sapo.pt/especiais/socrates/2015-01-04-Jose-Socrates-recebe-a-visita-de-tres-elementos-ligados-ao-PS-de-Castelo-Branco

- O Rei da Bicharada – mais conhecido por José Castelo Branco, que em junho de 2014 passou a viver mais modestamente, como o próprio justificou: “«Os tempos mudaram. Antes, tínhamos quatro empregados. Agora temos uma e um meio, que é o marido. Ao longo da semana, parecíamos duas princesas numa masmorra!», diz o marchand. (fonte: http://www.lux.iol.pt/nacionais/betty-grafstein-jose-castelo-branco-castelo-branco-apartamento-moradia/1560885-4996.html )

- O Rei das Farturas – quem não conhece?! Dispensa apresentações e seria o único rei a levar qualquer coisa à santa criancinha;


 
Para os mais curiosos, a Luxos encontrou um blog muito interessante que vos apresenta ‘reis’ de tudo e mais alguma coisa, ao qual desde já apresentamos os nossos parabéns pela criação do mesmo e só lamentamos que não tenha tido continuação: http://oreide.blogspot.pt/

Feliz 2015!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Era uma vez uma família portuguesa, como tantas outras.


 
Uma família numerosa, uma casa cheia.

A casa estava cheia de amor, carinho, risos, não de bens materiais ou dinheiro – esse escasseava sempre!

Todos os anos, por altura do Natal, quer chovesse quer fizesse frio, ninguém faltava à ceia de Natal, naquela pequena casa onde, para caber a mesa – que começava num quarto de dormir, passava pela cozinha e desaguava numa sala de estar – todo esse trajeto tinha que ficar desimpedido de móveis e eletrodomésticos porque, ou eram estes ou as pessoas. No Natal, optava-se sempre pelas pessoas.

 
Depois de desenvolvida toda a logística de remoção de móveis e equipamentos, passava-se à fase seguinte: a colocação das mesas. Poucos lares têm mesas com o mesmo tamanho ou altura, por isso, havia sempre um ou mais desafortunados que ficavam na união das mesas, com o prato todo inclinado, a ter que escolher entre uma e outra mesa para colocar o seu copo, a ter que levar com duas pernas de mesas diferentes entre as suas próprias pernas, etc.



O resultado final era uma mesa enorme, que praticamente dividia a casa ao meio e onde, de uma maneira ou de outra, todos lá iam caber. Ir à casa de banho ou ao exterior era uma aventura, que podia ser empreendida das seguintes formas:

1) por cima da mesa - normalmente crianças pequenas cujos pais não fossem supersticiosos e, mesmo assim, havia sempre um sermão dos que eram supersticiosos com o aviso de que dá muito azar passar por cima de uma mesa, embora nunca ninguém soubesse dizer  porquê – não importa, dá azar e ponto final, não se fala mais no assunto;

2)ou  por baixo da mesa – também aqui a tarefa esteve sempre mais facilitada para os mais novos porque, para além das razões óbvias, como o tamanho, achavam um piadão estar debaixo da mesa a fazer cócegas e a fugir daqueles que têm pouca destreza para os apanhar  depois, cansavam-se dessas traquinices e iam brincar ou tentar adivinhar em conjunto o que é que, da lista feita uns dias antes, o Pai Natal escolheu de presente para lhes dar;

3)e finalmente,  contornando toda a mesa, fazendo levantar toda a gente – aqui falamos dos seniores da família. As duas outras opções estavam fora de questão, por razões que também são óbvias, restava-lhes pedir licença e desculpa, a um por um dos que faziam levantar, até chegar ao seu destino. A dada altura iriam querer regressar ao seu lugar mas, como tinham percebido o alvoroço que se gerara, ficavam por ali mais um pouco (quer estivessem no interior ou no exterior) a empatar, a fingir que estavam a fazer não se sabia bem o quê - ninguém os deixava fazer nada para não se cansarem!


Era necessário arranjar toalhas de mesa suficientes e, mais ou menos a combinar, que cobrissem toda aquela mesa. Como não se faziam conjuntos de 30 do que quer que seja (pratos, copos, talheres, etc.), preenchia-se a mesma com todo o tipo de copos, pratos e talheres para que ninguém ficasse sem “ferramenta”.

 
Por fim, vinha o evento propriamente dito: o jantar de Natal (ou ceia, como queiram).

Que não se pense que, a esta altura, era só sentar e comer porque isso ainda estava longe de acontecer, numa família numerosa como esta.

Havia toda uma preparação necessária antes de a comida começar a ser distribuída pela mesa.

Três dias antes o bacalhau esteve a demolhar, com trocas de água diversas, em panelas industriais cobertas de água. De lembrar que este tipo de organização só é possível com a distribuição das diferentes tarefas. Havia alguém encarregue da “demolha do bacalhau”.



Já durante a tarde, uma pessoa ficava a descascar batatas e alhos; outra a lavar e a arranjar couves e grelos. Á medida que os outros começavam a chegar dos seus empregos, uma ia para um fogão fazer as rabanadas e os mexidos, outra ia para outro fogão fazer a aletria e o leite-creme. Estas precisavam ter muito cuidado em separar rabanadas com e sem molho; aletria com e sem canela; leite-creme queimado e por queimar – a ideia era conseguir agradar a todos e que todos comessem aquilo que mais gostavam, sem sacrifício (o das cozinheiras não conta, evidentemente…).
Os próximos a chegar dos empregos já iam ‘penicando’ as doçarias prontas, com as mais diversas desculpas: “não comi nada até agora; vocês sabem que eu só gosto disto quente; estava mesmo a precisar para me aquecer, se não como qualquer coisa não consigo fazer nada”; etc.

 
 
 Entretanto, começavam a chegar ao fogão as panelas industriais, usadas apenas nestas ocasiões, para cozer: o bacalhau, as batatas, os ovos, as couves e os grelos. Para quatro ou cinco pessoas menos apreciadoras do típico bacalhau havia sempre polvo; e entre o polvo cozido c/ batatas ou o polvo estufado c/ arroz ganhou o segundo e já há muitos anos que o arroz de polvo era também um prato tradicional do Natal nesta família.

Algures pela cozinha, alguém já pegava nas carnes para assar no dia seguinte, temperando-as e espalhando-as pelas diversas assadeiras, logo após são colocadas no forno, prontinhas a que na manhã seguinte seja só ligá-lo. Parecem os preparativos de um restaurante, não é? Tinha que ser ou corria-se o risco de nem às 4 da tarde estar o almoço pronto.

Os familiares que, nesse ano, ficaram de ir festejar o Natal com os sogros ainda passavam lá para desejar boas festas, petiscando das iguarias já prontas, como se quisessem levar um pouco do gostinho junto com eles.

Primeiro que os “panelões” cozinhassem o que lá estava dentro era um dia de juízo!

Quando as pessoas mais experientes declaravam que tudo estava pronto era necessário pedir voluntários, com alguma força braçal, para escoar a água. Normalmente eram precisos dois homens para levar as panelas grandes a escoar, o que, também normalmente era feito fora de casa dado o tamanho, o peso e a quantidade de vapor gerada no ato.






Conseguir que tanta gente se sentasse à mesa, anunciando que o jantar ia ser servido, requeria umas goelas de tenor ou de ardina e, mesmo assim, o anúncio teria que ser repetido algumas vezes até que, finalmente começasse a acontecer.

Começa então a ‘guerra’ de quem gosta do quê e como; quem tempera assim ou assado; o bacalhau está sem sal para uns, salgado para outros; os grelos cozeram demais para uns, e estão pouco cozidos para outros; as cozinheiras desculpam-se por não poderem agradar a todos e informam que para o ano será melhor (ao invés de dizer aos reclamantes que para o ano fazem eles o jantar!). Enfim, no final do jantar, os pratos ficavam rapados, todos estavam satisfeitos e meia dúzia deles já tinham um copito a mais na asa – já estava tudo a rir e a falar uns decibéis acima do normal.

O tempo passou e, aproxima-se a meia-noite, hora marcada para o Pai Natal aparecer com as prendas naquela casa. E não me venham cá dizer que nas outras casas está marcado há mesma hora porque não pode ser – o homem é grande e mágico mas não é omnipresente - não está ao mesmo tempo em toda a parte!

O melhor é parar com a discussão pois começo a enervar-me.


Bom, há hora marcada, mais coisa menos coisa, o Pai Natal lá aparecia e, também toda a gente sabe que para as crianças não se assustarem o Pai Natal nessa noite ficava ‘muito parecido’ com alguém lá de casa, tudo isso para conseguir alguma “familiaridade” naquele lar. Acho que acontece o mesmo nos outros lares por onde ele passa – o Pai Natal é ou não parecido com alguém lá de casa? Está tudo muito bem calculado e muito bem feito.

Nesta família, como em tantas outras, com tão grande numero de pessoas a distribuição das prendas só termina lá para as duas e meia da manhã, até porque o ‘pai natal’ já está com uns copitos e custa-lhe juntar as letras no “de:” e no “para:”, armando confusão e tendo que ser ajudado por quem escreveu os nomes.

Terminado o frenesim da distribuição de lembranças, a adrenalina geral começava a baixar, o João Pestana começava a bater à porta e as pessoas começavam a despedir-se, de coração quentinho porque sabiam que ainda estariam juntas no dia seguinte, para mais comida, jogos de cartas, jogos de tabuleiro familiares, etc.

Era assim o Natal especial desta família numerosa, como tantas outras…
 
 

Namorar com agricultor… quem não?!

Eu! Definitivamente, eu NÃO !   Ver mais em: https://luxosdaplebe.blogs.sapo.pt/namorar-com-agricultor-quem-nao-1107