Um belo dia fui ao meu Centro de Saúde.
Entre os diversos assuntos falados com a médica de família, um deles
era a informação de que tinha ido na semana anterior à especialidade de
Neurologia e o médico especialista tinha-me prescrito um exame, que até já
estava marcado.
A médica, simpaticamente, perguntou-me se era possível, após obtenção
do relatório do exame, enviar-lhe uma cópia por mail para o endereço de mail do
Centro de Saúde, ao seu cuidado. Com certeza que lhe disse que sim senhora, que não me custava nada (achava eu, na altura).
Era uma daquelas épocas, como na altura em que todos os
eletrodomésticos avariam lá em casa, com as doenças acontece quase o mesmo:
aparecem uma variedade delas quase ao mesmo tempo.
Eis senão quando, dei por mim a precisar de levar
umas injeções por causa de um ‘mau jeito’.
Numa dessas ‘idas à injeção’, dirigi-me à senhora do balcão de atendimento
e perguntei-lhe se podia deixar com ela cópia do relatório do meu exame a ser entregue à minha médica, como prometido, escusando de fazer o envio por mail,
que depois teria que ser impresso e indexado ao meu processo.
- Com certeza, menina. São 3 euros, se faz favor.
Sorri, pois por meros segundos pensei mesmo que fosse uma piada.
Não era.
Seguidamente, supus que só podia tratar-se de um engano ou de alguma
falta de comunicação e tentei, calmamente, explicar:
- Este exame não foi prescrito pela médica de família, eu apenas
informei a Sra. Dra. que o tinha feito, que fora prescrito pelo meu Neurologista, e ela
perguntou se eu lhe podia facultar uma cópia para anexar ao meu processo, só
isso.- Sim, sim, eu percebi – retorquiu a senhora, enquanto imprimia a fatura dos 3 euros.
O espanto: extorquida pela Segurança Social, a quem entrego todos os meses 11% do meu ganha-pão! |
Perante a realidade absurda do que me era pedido, começaram-se-me a
subir uns calores, que penso terem sido fruto da adrenalina provocada pela
sensação de estar a ser extorquida, de uma das piores formas que já tinha
ouvido falar!
- A senhora está a dizer-me que eu tenho que pagar 3 euros por um relatório
que não foi pedido pela minha médica, que eu própria copiei e imprimi, para
fazer o favor à minha médica assistente que o quer anexar ao meu processo?!
- respondeu, já meio enfadada por eu me estar a repetir... |
- Mas só por mero acaso, por andar a tomar injeções é que eu posso entregar o documento em mão pois era suposto enviar o relatório por mail! Se assim fosse, não havia lugar a qualquer pagamento ou havia? – desafiei-a eu.
- Esse valor ficaria aqui pendente no seu processo e, quando cá voltasse, ser-lhe-ia cobrado – arrumou comigo.
- Como assim? Mesmo que eu só voltasse daqui a 10 anos? Não posso crer que eu andaria descansada na minha vida e com uma dívida à segurança social, sem saber que a tinha – reparei que a minha indignação começou, ligeiramente, a constranger a senhora.
- São as regras, não sou eu que as faço – disse, dando-me a sensação de
que começava a perceber o ridículo daquele pedido de pagamento mas que,
simultaneamente, não podia alterar as regras impostas.
- Sendo assim, vai-me desculpar mas eu não vou deixar o relatório, nem
o vou enviar por mail. Da próxima vez que estiver com a médica explicarei
porque não o fiz.
Assim foi. A senhora ficou aborrecida pois já tinha impresso a fatura –azar
– agora o que é que lhe fazia. Assenti que esse problema era dela, não meu –
foi de alguma frieza, bem sei, fruto da idiotice do pedido.
Fica o aviso, meus amigos. Não faço ideia por quantas mais coisas serão
cobrados os 3 euros (ou outros montantes) mas cuidado com os telefonemas e os
mails, tudo se paga, aparentemente.
Ficou-me apenas uma dúvida por esclarecer: a médica faria ideia de que
me iriam cobrar por aquele favor?