segunda-feira, 1 de junho de 2015

“Abandonando nobremente quem nos deixa, colocamo-nos acima de quem perdemos.”



O abandono é triste.

Tenho para mim que este sentimento não é recíproco, só o sente o abandonado.

 

O abandono lento, gradual e inexplicável é ainda mais triste do que o outro: o abandono abrupto, de uma hora para a outra, com uma causa, por mais tola que esta possa parecer.

O primeiro, não é logo percetível para quem é abandonado e, por esse mesmo motivo, chega a ser cruel.

 

O abandonado, inocentemente, começa a achar que está doente: está só, sente um aperto no coração, as mãos tremem sem razão e o sono corre agitado. Depois começa a pensar que as pessoas não vão ao seu encontro porque têm as suas vidas, os seus empregos e afazeres – tudo serve para desculpar os outros. De seguida, e agora mais ignorante do que inocente, vem a fase da interiorização e, consequentemente, da culpabilização: devo ter dito ou feito alguma coisa muito bera, muito insultuosa – mas, por mais que dê voltas ao miolo, não consegue perceber o quê.

Na fase final, em que o silêncio e a solidão começam a ser insuportáveis, começa-se a sondar aqui e ali, procurando respostas para as perguntas que nem se sabe fazer.

 

Entre zunzums, um puzzle começa a formar-se. Há peças que demoram para encaixar mas, safanão daqui e dali, lá acabam por encaixar. Não é um quadro bonito, talvez por isso demore tanto a formar-se – é o quadro do abandono, com cores escuras e carregadas, como as nuvens que anunciam uma tempestade.

 

Perante semelhante quadro, o nosso próprio olhar escurece, entristece e, finalmente, percebemos que estamos sós porque fomos abandonados, lentamente, gradualmente… E as lágrimas soltam-se, exasperadas, tentando libertar a dor abafada no peito. Sem sucesso, porém.

 

Após a constatação da dura realidade, tudo parece mudar. Ficamos frios. Fechamo-nos para o mundo – agora somos nós que não queremos “os outros”. Os “outros” são cruéis, traidores, egoístas, fúteis. Não merecem um segundo da nossa atenção.

Ainda assim, e por baixo da melhor máscara, há uma dor que lateja, incessantemente, com a qual aprendemos a viver, ou a “sobreviver”.


Namorar com agricultor… quem não?!

Eu! Definitivamente, eu NÃO !   Ver mais em: https://luxosdaplebe.blogs.sapo.pt/namorar-com-agricultor-quem-nao-1107